11/05/2009 - 17:41
Reuters
BRASÍLIA (Reuters) - A tendência de participação crescente dos produtos básicos na pauta de exportações brasileiras só deve se reverter a partir do segundo semestre de 2010, avalia o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.
Esse é o tempo estimado para uma retomada da demanda dos Estados Unidos e da Europa --que despencou com o agravamento da crise--, e também para que o Brasil recupere fatias de mercado perdidas para produtos asiáticos na América do Sul.
"Hoje as commodities estão segurando a balança comercial brasileira, mas no médio prazo tem que ter uma estratégia para diversificar isso", afirmou à Reuters nesta segunda-feira o secretário de Comércio Exterior, Welber Barral.
"Isso é reversível, mas é reversível a médio prazo", acrescentou, citando o segundo semestre do próximo ano.
Barral disse não estar ainda preocupado com a recente desvalorização do dólar frente ao real. Desde o início de março, o dólar caiu 15,7 por cento frente à moeda brasileira. Ainda assim, o real perdeu cerca de um terço do seu valor frente a agosto do ano passado.
Para o secretário, esse movimento tende a ser temporário.
"Risco de choque no câmbio é a elevação dos preços das commodities, o que não é esperado", afirmou. Ele frisou que um dólar cotado a 2 reais ou mais garante a competitividade dos produtos brasileiros.
Segundo a última sonodagem do Banco Central, o mercado espera que o dólar feche o ano a 2,20 reais, mas nesta segunda-feira a moeda norte-americana encerrou a 2,059 reais, mesmo depois de o BC ter feito um leilão de compra à vista.
Nos primeiros quatro meses do ano, as exportações brasileiras de manufaturados despencaram 28,7 por cento frente ao mesmo período de 2008, para 19,6 bilhões de dólares. No mesmo período, os embarques de produtos básicos registraram valor recorde de 17,2 bilhões de dólares, com alta de 8,7 por cento.
Com isso, a participação dos produtos básicos na pauta de exportações do Brasil cresceu para 39,6 por cento no quadrimestre, frente a 30,4 por cento no mesmo período de 2008. Já a participação de industrializados caiu para 58,2 por cento, contra 66,8 por cento
Esse desempenho acompanhou um crescimento da participação das vendas para a Ásia, principalmente para a China, que superou pela primeira vez os Estados Unidos como principal parceiro comercial do Brasil.
As exportações brasileiras para a China saltaram 66,7 por cento no quadrimestre, por conta de minério de ferro, soja em grão, celulose e siderúrgicos. Já para o Mercosul, Estados Unidos e América Latina e Caribe --tradicionais consumidores de manufaturados brasileiros-- as vendas caíram respectivamente 39,4 por cento, 34,5 por cento e 28 por cento.
Barral aposta que grande parte da recuperação das vendas de manufaturados se dará com o arrefecimento da crise, aguardado para a segunda metade do próximo ano.
OFENSIVA
Enquanto isso não ocorre, o Brasil trabalha em uma ofensiva para criar oportunidades de negócios em países vizinhos onde o empresariado brasileiro ainda não tem grande presença, ou perdeu espaço recentemente para importações asiáticas.
Entre as prioridades estão Peru e Colômbia, com quem o Brasil promove reuniões bilaterais e missões empresariais.
"Temos que aumentar as ofensivas nos países latino-americanos para manter mercados", afirmou Barral.
Em outra frente, o Brasil também tenta diversificar e ampliar a pauta de exportações de maior valor agregado para a Ásia, em particular para a China.
Ele citou, como exemplo, que o Brasil quer passar a exportar mais derivados de soja, como óleo e farelo, e não apenas a commodity em grão, como ocorre atualmente.
Outra aposta é o mercado de aviões. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em visita ao país asiático nos próximos dias, fará promoção dos modelos da Embraer.
"Precisamos ter mais audácia na China", disse Barral, cobrando uma maior presença dos empresários brasileiros no país asiático para abrir e manter mercados.
Além do aumento das vendas das commodities, o saldo comercial brasileiro tem sido favoravelmente afetado por uma queda forte das importações em meio à desaceleração da demanda e de um dólar mais caro.
Nos primeiros quatro meses do ano, o saldo comercial somou 6,7 bilhões de dólares, alta de quase 50 por cento frente ao mesmo período de 2008. As exportações totais caíram 16,5 por cento no período, enquanto as importações sofreram queda de 22,8 por cento.